Se você já teve medo de colocar suas ideias em prática, acreditou que o seu sucesso estava atrelado a sorte ou teve medo de descobrirem que você é uma fraude, é bem provável que você conviva com a Síndrome do(a) Impostor(a).
O fenômeno recebeu este nome em 1978, quando as psicólogas americanas Pauline Clance e Suzanne Imes, da Universidade do Estado da Geórgia (EUA), realizaram um estudo com um grupo de 150 mulheres que haviam atingido o sucesso em suas vidas profissionais e, ainda assim, se sentiam uma fraude.
Para entender mais sobre o assunto, convidamos a Psicóloga e People and Culture Manager da Datum, Isabela Machado, para responder algumas perguntas a respeito do tema. Com vivência na área clínica e organizacional, a Psicóloga esclareceu dúvidas e ainda ofereceu dicas para driblar esta síndrome. Vem conferir!
O que é a Síndrome do(a) Impostor(a)?
Isabela Machado: A Síndrome do Impostor é como a Psicologia nomeia uma série da padrões comportamentais e pensamentos automáticos de desvalia ou insegurança. É muito comum que as pessoas que sofrem com esta síndrome tenham a sensação de que não são merecedoras.
Elas duvidam constantemente da sua capacidade e tendem sempre a se acharem uma fraude mesmo sendo merecedoras de seu sucesso e conquistas. Consequentemente, esses pensamentos podem desencadear sofrimentos psíquicos como depressão, ansiedade e outros.
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Porque a síndrome ocorre principalmente com mulheres?
Isabela Machado: Então, eu penso que para respondermos essa pergunta é necessário entender todo o contexto social que as mulheres são criadas desde pequenas, onde muitas ainda são ensinadas a não terem ambições, serem cordiais e sempre respeitarem os homens.
Essas heranças culturais resultam em uma menor autoestima e a sensação de precisarem constantemente de aprovação externa. Por isso, a dificuldade em reconhecerem as suas conquistas, é um dos resultados de todas essas questões.
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Quais são os pensamentos mais comuns e como saber que a síndrome está chegando?
Isabela Machado: Os pensamentos mais comuns relatados pelas mulheres que são vítimas da Síndrome do Impostor são “eu não mereço estar aqui”, “eu tive muita sorte”, “meu trabalho não está bom o suficiente”, “as pessoas ao me redor vão saber que sou uma fraude”.
Geralmente esses pensamentos tendem a atribuir a conquista ou o sucesso a fatores externos, como sorte, coincidência ou a ação de terceiros. Os pensamentos auto sabotadores geralmente surgem de gatilhos diversos como, olhares, comentários, reuniões e podem acompanhar sensações de tristeza, ansiedade, angústia ou nervosismo.
Por isso, é importante estar atento a resposta emocional e até fisiológica, já que é uma boa forma de detectar esses pensamentos que, por vezes, já estão super internalizados.
O que a Síndrome do(a) Impostor(a) tem a ver com o sentimento de não pertencimento?
Isabela Machado: As mulheres que trabalham na área da Tecnologia da Informação ainda vivenciam um ambiente predominantemente masculino. Acredita-se que as mulheres ocupem apenas 20% desse mercado. Isso significa que muito de suas relações de trabalho ainda são com homens, logo, muitos gatilhos de desvalia podem ser ativados nessas trocas justamente pelas razões mencionadas.
A necessidade de se provar capaz de ocupar aquele espaço, muitas vezes machista, acaba se tornando muito mais forte, por destoarem da maioria.
Por isso é tão importante incentivar cada vez mais a inserção de mulheres na TI. Nós aqui na Datum, nos preocupamos muito com isso, por isso, criamos o Let’s Go Girls, um programa que tem como objetivo capacitar mulheres para se inserirem no mercado de tecnologia e ocuparem espaços com pouca atuação feminina.
Podemos citar características dessa síndrome como: ansiedade, perfeccionismo, autocrítica, medo de falhas, autossabotagem etc. Como estes sentimentos podem levar a outros problemas?
Isabela Machado: É muito importante estar atenta aos reflexos da Síndrome do Impostor em nosso dia a dia. Infelizmente, sentimentos ligados a baixa autoestima, ansiedade, tristeza e autocobrança são muito comuns em pessoas que vivenciam essa síndrome.
Em casos mais graves, essas emoções podem sim evoluir para um quadro de transtorno de ansiedade generalizada ou depressão, por exemplo. O que acontece muitas vezes é que essas emoções influenciam no dia a dia da pessoa que acaba ativando gatilhos que reforçam as emoções e pensamentos sabotadores, tornando-se um ciclo de pensamentos de desvalia.
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Como lidar com a Síndrome do(a) Impostor(a)?
Isabela Machado: Acredito que o primeiro passo para lidar com a síndrome é realmente reconhecer que ela faz parte da sua vida, mas que não necessariamente precisa seguir te acompanhando.
Investir em autoconhecimento e buscar auxílio profissional da área da saúde mental é essencial, inclusive, para auxiliar com os outros sentimentos que são desencadeados pela síndrome.
Mas uma forma bacana de enfrentar esses pensamentos é lidar com fatos e informações. Busque listar as suas conquistas, os momentos em que você precisou se desafiar e seus sucessos. Com certeza eles serão maiores do que você pensa!
Outra ferramenta de enfrentamento que podemos usar é a busca por feedbacks de colegas e familiares, ouvir a percepção que o outro tem de você ou o que a pessoa achou da sua entrega/apresentação é uma boa estratégia. Quando lidamos com pensamentos compulsivos a melhor forma de encará-los são com fatos.
Esperamos que este bate-papo tenha esclarecido as suas dúvidas sobre a Síndrome do Imposto. Se você se identificou com os aspectos mencionados, sugerimos que você procure um profissional da saúde mental. Você também pode compartilhar este artigo com alguém que possa se interessar pelo tema.