Quantas vezes você já sentiu dificuldade em encontrar roupas para o seu tamanho ou pensou que atravessar a catraca de um transporte público poderia ser um motivo de preocupação? São questões como essas que aparecem todos os dias na rotina de pessoas gordas e que reforçam que a gordofobia não está presente apenas em falas e “brincadeiras” preconceituosas, mas na falta de infraestrutura para essas pessoas usufruírem, até mesmo, de espaços públicos.
Em setembro de 2017, uma pesquisa encomendada pela Skol Diálogos e realizada pelo Ibope, demonstrou que a gordofobia é um fator presente na rotina de 92% dos brasileiros. Os dados não mentem: o debate é imprescindível, pois sabemos que este é um dos caminhos para reduzir o preconceito.
O poder da representatividade
Não é novidade que a representatividade assume um papel importante quando o assunto é amar e aceitar o próprio corpo. Muitos influenciadores já estão à frente deste debate, falando sobre a importância de ver corpos reais na mídia e no mundo virtual. Figuras como Luana Carvalho, Caio Revela, Alexandra Gurgel, Jessica Lopes e Ellen Valias, são um exemplo na luta contra a gordofobia.
Em suas redes sociais eles abordam diferentes assuntos, desde moda, beleza, atividades físicas, empoderamento etc. Nos últimos anos, estas personalidades jogaram um ponto de luz e atenção às vivências de pessoas gordas na sociedade.
No entanto, é importante lembrar que elas não devem ser reduzidas a falar apenas sobre “ser uma pessoa gorda”, visto que esta é apenas uma pequena parte delas e isso as não define. Elas são plurais e seus interessem vão muito além disso.
Relato sobre gordofobia
Em busca de trazer mais informações e conhecimento a respeito do tema, nosso Comitê de Diversidade e Inclusão, DiversiDatum, conversou com a Marketing Leader, Angélica Pessoa, 26, que contou mais sobre a sua vivência como pessoa gorda na sociedade.
Segundo ela, a gordofobia já era vivenciada na infância, por ser uma menina gorda, porém sem compreensão do quanto aquilo era errado. Naquela época, não se falava sobre bullying, então as crianças entendiam como provocações.
Porém, na fase adolescente ela comenta que o seu entendimento sobre o assunto já era outro. Sua autoestima não era boa e por isso as comparações com outras meninas eram constantes.
— Na minha adolescência, por volta dos 15 anos eu era um pouco acima do peso em comparação à outras pessoas. Por ter baixa autoestima, eu tinha dificuldade até de paquerar os meninos na escola, explica.
Aos 17 anos, por conta da rotina corrida do início da vida adulta, ela perdeu muito peso — chegando a vestir o tamanho 36 — porém convivendo com a distorção da imagem que a fazia se enxergar gorda.
Com o passar dos anos a ideia sobre o seu corpo foi mudando, porém, apenas agora, ela conta que consegue se enxergar de uma forma diferente e ter uma relação saudável com o próprio corpo.
— A ideia do meu corpo só foi melhorar agora, aos 26 anos, usando calça (tamanho) 46, dez números maiores do que eu usava aos 18 anos. Hoje eu me sinto muito mais tranquila do que naquela época, aponta.
Quando à questionamos sobre a construção de sua autoestima e o empoderamento ao longo dos anos, ela comentou que a presença de influenciadores gordos nas redes sociais foi bastante importante para ela.
— No início das redes sociais eu seguia famosos e acompanhava pessoas dentro do “padrão” de beleza da sociedade. Com o passar dos anos eu comecei a deixar de seguir algumas pessoas que valorizavam muito a magreza para seguir pessoas que eram mais parecidas comigo, conta.
Cada vez mais percebemos o quanto a representatividade é essencial em todos os ambientes, desde o espaço escolar, familiar, de amigos e até mesmo no ambiente de trabalho. Diante disto, questionamos a líder de marketing sobre a importância do debate no meio corporativo.
— O gordo está muito próximo das pessoas. Todo mundo conhece um gordo, todo mundo tem um amigo ou familiar gordo ou então você é a pessoa gorda. É preciso naturalizar que não tem nada de errado em ser gordo, nem de se referir a alguém como gordo. Essa pessoa é como qualquer outra que está vivendo a sua vida, afirma.
Ela ainda reforça sobre a importância de evitar comentários gordofóbicos, “o principal é ter bom senso de não se meter na vida do outro”, afirma Angélica.
De acordo com ela, a regra de etiqueta é simples: não ofereça palpites e dicas de dietas infalíveis para a perda de peso se não for solicitado, nem parta da ideia de que toda a pessoa gorda é doente, visto que isso é uma grande falácia.
Outro passo importante para mudar o estigma sobre pessoas gordas está em uma mudança de comportamento da sociedade.
— Não é preciso ter medo de dizer que alguém é gordo, de usar essa palavra, porque não tem nada de errado com ela. Tentar encontrar outras palavras para deixar mais “soft” por receio, se torna ainda pior, complementa.
A Datum se preocupa com o acolhimento e o respeito a todas as diversidades. Por isso, não poderíamos deixar de falar sobre um assunto que, infelizmente, ainda é muito presente: a gordofobia.
Acreditamos que todas as vozes devem ser ouvidas e que devemos apoiar as causas por um mundo com menos preconceito. Nossa luta contra a gordofobia continua e contamos que você seja uma liado dela.